Aos primeiros sinais de dores, recorre ao computador. Você se sente o próprio Dr. House diante de uma jornada para descobrir o mistério em torno dos sintomas que abalam o seu corpo. O método de análise inclui uma ferramenta bem popular. Com os sintomas em nota, vai em busca das possíveis causas para os males que te assolam e digita-os, um a um: “Dor de cabeça, náuseas, tontura, dores musculares são sintomas de…”. Está pronta a fórmula para receber o diagnóstico com o incrível Dr. Google. Tão rápida quanto for a velocidade de sua internet, essa consulta, que parece ser uma solução instantânea, pode trazer muitos perigos à saúde. O Google, assim como a internet, é realmente de grande ajuda para pesquisas de todos os tipos. Mas em um ambiente tão democrático e aberto, não é de se espantar que haja muito conteúdo duvidoso.
É possível supor que cada leitor desse texto já pesquisou, pelo menos uma vez, sobre algum sintoma que tenha sentido. De acordo com uma pesquisa encomendada pela seguradora de saúde Bupa ao instituto Ipsos e à London School of Economics, mais de 80% dos brasileiros com acesso à internet usam a web para buscar informações sobre saúde, remédios e condições médicas. O estudo ouviu 12.262 pessoas em 12 países. Foram entrevistados 1.005 brasileiros em amostra representativa da população de até 50 anos. O Brasil ficou em quinto lugar na lista de países onde os internautas mais pesquisam sobre saúde. Entre os brasileiros, 68% fazem consultas sobre medicamentos, 45% sobre hospitais e 41% querem conhecer experiências de outros pacientes. Porém, a pesquisa também revela um comportamento perigoso dos usuários: apenas um quarto verifica se a fonte das informações é confiável.
Doses certas de informações
O bom senso é o principal remédio contra a desinformação na rede. De acordo com Gerson Zafalon, 2º Secretário e Coordenador da Câmara Técnica de Telemedicina do Conselho Federal de Medicina (CFM), devido à facilidade de acesso e o enorme número de sites informativos sobre saúde e doenças, muitos pacientes chegam ao consultório com pilhas de documentos sobre o que eles acham que têm, muitas vezes com informações absurdas. “É preciso selecionar os dados em sites confiáveis e se informar sobre o material obtido na rede com seu médico. Uma dor de cabeça, por exemplo, pode se transformar num sintoma de tumor cerebral para aquele que acessou uma página na web”, ressalta Zafalon.
Ainda segundo o coordenador, o acesso à informação médica na internet pode facilitar a participação de tomada de decisão entre o médico e o paciente, mas o número de sites não confiáveis é muito grande, e o risco do leigo fazer seu diagnóstico, ou achar que tem determinada doença e se automedicar é muito grande e prejudicial. Zafalon destaca ainda que informações incorretas obtidas na internet podem levar à demora de diagnóstico, o que pode causar ao paciente prejuízo no seu tratamento. “Para evitar más informações, o paciente deve acessar páginas de referência como os das sociedades de especialidades médicas, o portal do Conselho Federal de Medicina, o do Ministério da Saúde e de universidades”, aconselha.
No calor do consultório
As informações obtidas na internet podem ajudar o paciente a entender sobre sua doença, mas de forma alguma substituem a consulta “analógica”. “O médico conhece a história do paciente, já o examinou, tem os resultados de exames complementares em mãos e, principalmente, conversa com o seu paciente olhando-o nos olhos, sentindo as suas emoções, angústias e dúvidas”, alerta Zafalon.
O especialista acredita que a internet pode ser uma ferramenta útil, veiculando informações e orientações de saúde de caráter educativo, abordando a prevenção de doenças e promoção de hábitos saudáveis. Mas, pelas suas limitações, não deve ser instrumento para consultas médicas, diagnóstico clínico, prescrição de medicamentos ou tratamento de doenças e problemas de saúde. E aconselha: nada substitui a conversa do paciente com seu médico. “Um dos pilares éticos da medicina é a relação médico-paciente, em que a conversa e o exame clínico permitem o diagnóstico e a terapêutica”, complementa.
Rede de informações
Utilizada de forma correta, a web pode contribuir para a informação e ajudar o paciente a lidar com sua doença se apoiando em experiências de outros internautas. A neurocientista norte-americana Katie Moisse acredita que médicos e pesquisadores precisam estar cientes de que a informação está lá fora e que os pacientes estão tentando se educar da melhor forma possível. “A internet certamente faz do mundo um lugar menor. É uma oportunidade maravilhosa para as pessoas compartilharem ideias. Algumas redes de pacientes usam a internet para coletar dados e, até mesmo, publicá-los em periódicos revisados”, ressalta Moisse.
O ambiente online propicia a formação de grupos sobre várias doenças. Um exemplo disso é a rede social Patients like me (Pacientes como eu). Quase 50 mil usuários com os mais diversos problemas trocam informações sobre doenças e, também, encontram apoio naqueles que partilham o mesmo sofrimento. Há ainda o Inspire, Cure Together e Health Central — espaços para promover discussões sobre efeitos colaterais de remédios, alternativas de tratamentos, sintomas e avaliações de médicos.
https://youtu.be/uMRjsEPVUKM
No Brasil, o Ministério da Saúde tem um blog com várias dicas de saúde. Veja aqui uma lista de sites brasileiros confiáveis para pesquisas sobre informações de saúde.