A pesquisa TIC Educação analisa o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação em escolas públicas de áreas urbanas de todas as regiões do Brasil. Em 2011, o estudo apontou alguns dados comparativos com escolas particulares. Quase a totalidade (95%) dos alunos de instituições públicas realizou alguma atividade envolvendo o uso de computador e internet na escola. Nas particulares, esse índice foi de 79%. Mas essa diferença pode estar ligada ao fato de 88% dos estudantes de escolas privadas terem acesso à internet domiciliar, enquanto menos da metade (49%) dos alunos de escolas públicas têm a possibilidade de acessar a web em casa.
Ainda de acordo com a pesquisa, que é realizada pelo Comitê Gestor de Internet no Brasil (CGI.br), o número de escolas públicas com computador conectado à internet cresceu de 92% para 100% entre 2010 e 2011. Porém, o índice de salas de aula com o equipamento permaneceu em 4%. O laboratório de informática ainda é o local de uso mais frequente apontado pela maioria: 76%, de acordo com o relatório.
Esses dados revelam que, apesar do intenso crescimento da internet e do número de computadores no país, a educação ainda carece de bases nesse sentido. Muito além da estrutura física, o preparo dos educadores também é um fator fundamental para esse cenário. Entre os desafios técnicos apontados pelos professores, o número insuficiente de computadores, a baixa velocidade da internet e a obsolescência dos equipamentos são os principais fatores de entrave — tanto em instituições públicas quanto em particulares.
Quanto às dificuldades pedagógicas para o uso de computador e internet, educadores de escolas públicas e particulares enxergam os mesmo desafios. Entre os principais: não entendem sobre computador e internet o suficiente para usarem na escola, não sabem de que forma ou para quais atividades podem usar computador ou internet e apontam que o uso do computador e da internet é um objetivo pouco importante da escola.
Por outro lado, muitos professores tentam informatizar a aula com seus próprios recursos: 50% dos docentes levam o seu próprio computador portátil para a escola — em 2010, esse índice era de 41%. Aumentou o número de professores que adquiriram notebook: em 2010, eles eram 65%, em 2011, 76%.
Quanto mais distante, maior o problema
Levando em conta que esses dados foram coletados em instituições de áreas urbanas, imagine como é o cenário em escolas de áreas rurais. De acordo com o Ministério da Educação, 90% dessas escolas — um total de 68.651 unidades — não têm internet. Além disso, precisam se preocupar com problemas mais básicos: a taxa de estabelecimentos sem energia elétrica é de 15% (11.413 escolas), enquanto 10,4% não contam com água potável (7.950) e 14,7% não apresentam esgoto sanitário (11.214).
E o problema da infraestrutura como um todo não acontece somente em áreas mais remotas. Recentemente, Isadora Faber, uma menina de 13 anos estudante de Florianópolis (SC), mostrou em sua página no Facebook, “Diário de Classe”, uma realidade conhecida por muitos. São portas quebradas, fios expostos, quadras abandonadas e muitos outros problemas como a falta de preparo dos professores e coordenadores em lidar com a nova realidade da comunicação, em que todos, inclusive e principalmente os alunos, têm voz ativa e participativa por meio da web.
Mas o que um computador conectado à internet pode fazer pela educação?
Muito mais do que se pode imaginar. As crianças conseguem assimilar funcionalidades do computador sozinhas. Se você convive com alguma criança que teve contato com algum tipo de tecnologia (computador, celular, tablet etc.) já deve ter notado essa facilidade assim que os pequenos dedinhos começaram a percorrer com destreza as telas dos dispositivos que tinham à disposição.
Um exemplo do poder de assimilação das crianças é o projeto “Hole in the Wall” (buraco na parede), realizado por Sugata Mitra, atualmente professor de tecnologia educacional da Universidade de Newcastle (Reino Unido). Em 1999, Mitra e seus colegas cavaram um buraco em um muro em uma favela de Nova Deli, na Índia, instalaram um PC conectado à internet e deixaram o equipamento lá (com uma câmera escondida filmando a área). Viram as crianças da favela brincarem com o computador enquanto aprendiam como usá-lo, como acessar a internet e, depois, acompanharam a maneira como foram ensinando uns aos outros.
Nos anos seguintes, eles replicaram a experiência em outras partes da Índia, urbanas e rurais, com resultados semelhantes, desafiando alguns dos principais pressupostos da educação formal. O projeto demonstra que, mesmo na ausência de qualquer intervenção direta de um professor, um ambiente que estimule a curiosidade pode causar aprendizagem através de autoinstrução e por meio do conhecimento compartilhado. É o que Mitra chama de “educação minimamente invasiva”. Saiba mais sobre as experiências de Mitra em suas palestras no TED: clique aqui e aqui
Há um projeto chamado One laptop per child (um laptop por criança), que tem como objetivo fazer com que crianças de zonas pobres do mundo tenham acesso mais fácil à educação. Como parte do projeto, a Motorola enviou alguns exemplares do seu Xoom Tablet para crianças da Etiópia. Deixou as caixas lacradas com os aparelhos em um vilarejo, sem qualquer tipo de instrução ou auxílio. Em cinco minutos as crianças já tinham conseguido ligar o aparelho. Cinco dias depois, cada uma delas já usava uma média de 47 aplicativos por dia. Em duas semanas, já ouviam e cantavam o alfabeto em inglês. Em cinco meses, eles hackearam o Android para habilitar o uso da câmera, que provavelmente foi desabilitada por algum funcionário antes da distribuição dos aparelhos. Só lembrando que essas crianças não falam inglês, não são alfabetizadas, não conhecem sinais de trânsito ou códigos simples para nós (como botões de “on” e “off”). Saiba mais sobre o projeto na palestra de um de seus idealizadores: Nicholas Negroponte.