Mídia

Indústrias do cinema e da música mais próximas digital

Indústrias do cinema e da música cada vez mais próximas do ambiente digital

Em 2009 surgiu na internet um garoto chamado Danilo Miedi, um rapaz que afirmava ter sido o primeiro a descobrir que o Orkut mudaria sua interface. Com o objetivo de convencer seus seguidores a apoiá-lo na campanha de ser, também, o primeiro a possuir um convite para o “novo Orkut”, ele criou contas nas mais diversas plataformas do Google, tais como YouTube e Blogger. Fora dos canais oficiais, o personagem também utilizou o Twitter para tornar mais autêntica sua participação na rede.

No final das contas, tudo se tratava de uma campanha do próprio Google, criada para chamar a atenção dos brasileiros às mudanças naquela que era a mais popular rede social do país. A ação deu certo e acabou tornando-se um viral. Encerrada a campanha, Danilo (ou o Google) publicou o post de despedida com um discurso de que todo mundo poderia ser criador da própria mídia. Nas palavras de Marcelo Tas, citadas no texto, “virar o Roberto Marinho de si mesmo”.

É exatamente por isso que as mídias tradicionais precisam se reinventar. As emissoras de televisão aberta, principalmente, passaram a usar a internet como uma ferramenta de interatividade com seus espectadores. O rádio também passou a ser transmitido e produzido pela web. Isso é um fenômeno natural diante da chamada “convergência digital”. De acordo com Náyady Karyze Oliveira Nunes Da Silva, da Universidade Federal de São Carlos, a maioria da população passou a ter sua própria “indústria cultural” e ficou menos dependente dos meios convencionais.

O público na produção

Diante desta realidade, mesmo a indústria cinematográfica, fonográfica e a própria televisão, precisaram encontrar neste novo ambiente uma forma de parecer mais atrativas diante de uma realidade em que as alternativas podem ser facilmente encontradas gratuitamente na internet; é o que defende o professor de Artes e Comunicação da UFSCar Jônatas Kerr de Oliveira.

Se do ponto de vista da produção audiovisual as alternativas são facilitadas, o circuito exibidor se torna ainda mais amplo e fora do controle das produtoras de filmes, das emissoras de TV e das gravadoras. Através de softwares livres, diversos criadores “anônimos” produzem seus próprios filmes, editam áudio de músicas ou videoclipes. Um exemplo interessante é a experiência de três amigos europeus que conseguiram recriar, com poucas ferramentas, uma cena de batalha em uma guerra. Veja:

O reconhecimento do poder e das possibilidades que as novas mídias podem oferecer é o ponto de partida para que nenhuma plataforma saia no prejuízo diante desse cenário de transformações e de inversão de papéis no que diz respeito à produção e difusão de conteúdo. Por isso o Google criou Danilo Miedi: através da empatia dos milhões de brasileiros anônimos usuários da internet com outro suposto anônimo era possível tornar a campanha do Google ainda mais eficaz, já que todos se sentiriam “donos da sua própria mídia”, tal como Danilo se portou.

É esse reconhecimento que faz com que estúdios de cinema, por exemplo, já dependam da internet. Um exemplo apontado por Náyady é o filme “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, de 2008. Além dos sites oficiais nos EUA e no Japão, criados pela Warner Bros. para divulgar o trailer, DVD, Blu-ray e relançamento em IMAX, proliferam na rede os chamados ARGs (Alternate Reality Games), quem têm como objetivo ampliar os sentidos e a experiência do espectador com relação ao filme. Entram em cena os conceitos de Transmedia Storytelling e Gamification.

Ou seja, a presença on-line de conteúdos sobre o filme contribui para a disseminação em diversos meios para que ele desperte interesse. Mais adiante, a trilha sonora será comercializada (também digitalmente) e o desafio é conciliar a existência na mídia tradicional (cinema) em outras que habitam na rede.

Com a música não é diferente. De um formato alternativo para a experiência sonora, o videoclipe passa a ser, também, ferramenta de marketing para shows e álbuns de artistas. Hoje, o videoclipe, sozinho, não se configura somente como uma estratégia publicitária, pois ele próprio é produto de uma pré-divulgação. Em suma, cria-se uma expectativa para o videoclipe que vai vender a música e estimular a compra do álbum. E neste cenário de convergência midiática, cada vez mais os videoclipes adquirem estéticas cinematográficas, como já vistas desde a década de 80 em Thriller, de Michael Jackson.

Na prática, estes fatos esclarecem que nem mesmo os produtores de conteúdo e as mídias de massa estão ignorando as possibilidades da web e as capacidades dos usuários, antes vistos apenas como receptores. De acordo com o professor Jônatas Kerr de Oliveira, é preciso que aprofundemos “os conhecimentos nas mídias digitais para que estas não nos superem, mas sim que nós nos superemos utilizando-as”.

Tópicos: