Moral é algo que, mesmo invisível, não seria deixado de fazer. A moral difere de pessoa para pessoa e surge de acordo com o ambiente e os exemplos de cada indivíduo. Mas para que ela exista, a liberdade é essencial. Se alguém decidir não fazer algo e essa decisão partir do medo ou da vergonha de ser descoberto, então a decisão não foi fruto de uma escolha moral.
Essa definição foi dada pelo professor da USP, autor e filósofo Clóvis de Barros Filho. Ele abriu as palestras da 13ª edição da Expogestão, evento de negócios nacional que, anualmente, reúne empresários, palestrantes, autores e especialistas do Brasil e do mundo na cidade de Joinville (SC) para debater e trocar experiências sobre economia, gestão e empreendedorismo.
De maneira bem humorada e inteligente, o professor falou sobre moral e ética, a respeito de investir e crescer sabendo que ninguém está sozinho no mercado. Por isso, esses valores não devem partir de um medo de punição. Mesmo em uma sociedade cada vez mais vigiada, como a nossa, eles devem ser uma escolha consciente de cada um.
“Uma sociedade desenvolvida é uma sociedade em que a formação moral se dá ininterruptamente.”
Já a ética demanda coletividade. Não existe sistema ético pronto e universal. A ética é sempre um acordo. Qualquer grupo de pessoas, seja ele um casal, uma família, um grupo de amigos ou até uma grande empresa com milhares de funcionários, deve ter valores éticos de convivência para que os objetivos de todos possam ser atingidos sem que a liberdade do próximo seja ferida.
Parece simplório ao ser definido desta maneira, mas a ética não se resume a um grupo de valores postos em papel ou em um arquivo. Ela só funciona com constante manutenção e se todos os atingidos pelos princípios estiverem de acordo e tenham voz na hora de tomar decisões.
Em qualquer organização, o papel do líder nestas situações deve ser prioritariamente o da humildade, para que os colaboradores possam ajudar a definir os valores que todos da empresa devem seguir. Inclusive o próprio líder, porque simplesmente não tem como um pequeno grupo representar um todo quando se fala em liberdade e na melhor maneira de agir.
Na palestra, o professor afirmou: “Cada um é especialista no espaço em que circula todos os dias.” Ou seja, não dá para querer saber mais que o vizinho sobre a casa dele.
“Ética é a inteligência compartilhada a serviço do aperfeiçoamento da convivência.”
Cada um é dono da própria liberdade, cada um tem, em seu poder, um infinito de possibilidades para decidir sobre qualquer coisa, mas é importante a percepção de que nós vivemos e convivemos com outras pessoas.
Atuar com foco na coletividade melhora as relações
A corrupção surge quando não se pensa no coletivo, quando o objetivo é apenas ganhar sozinho, tirar proveito para si próprio. Não é uma ação exclusiva do ambiente político ou de mega-corporações. Está, sim, presente no dia a dia. Por isso, é preciso que as pessoas trabalhem em equipe, que as empresas atuem em parceria e todos, juntos, contribuam para uma sociedade e um mundo melhor.
Essa foi a mensagem central da palestra da monja Coen Sensei, apresentada no segundo dia da Expogestão. Segundo ela, é preciso acreditar em si mesmo, na empresa, no país. Dizer que o Brasil não presta ou que brasileiro é corrupto é não acreditar em si mesmo. E essa falta de confiança, essa negatividade é capaz de se transformar em realidade e de afetar de maneira concreta os negócios e o futuro de uma empresa.
“Se nós quisermos viver um mundo de equidade, nós precisamos vivenciar essa equidade. Não somos iguais. […] E viva a diferença! Não somos iguais, mas trabalhamos juntos. Nós temos olhares diferentes para a realidade e isso é muito bom. Não é o consenso, mas o dissenso que nos enriquece.”
A ética e a moral não estão associadas, portanto, a pensamentos unânimes. É preciso somar experiências, conhecer variados pontos de vista, compartilhar conhecimento: “O olhar diverso a partir da realidade enriquece, transforma em possibilidades, realizações.” E completou: “É preciso arriscar-se. E só se arrisca quem tem coragem.”
Trabalhar em conjunto para o bem-comum — seja numa relação fornecedor-cliente, empresa-funcionário, empresa-sociedade — faz bem a todos, porque todos só têm a ganhar com a confiança e as boas relações, que se fortalecem em tempos de crise. “Às vezes não nos damos conta de que o que nós estamos vivendo é bom, porque é uma transformação. Não podemos estar acomodados. Cada instante da vida é uma oportunidade extraordinária de crescimento”, afirmou.