Gestão do Conhecimento

Cultura remix: criatividade na disseminação de conteúdo

Cultura remix: criatividade para disseminação de conteúdo

Você tem a sensação de já ter ouvido essa música, acha que já leu esse texto e pode jurar que já viu essa cena em outro filme. É provável que sim. Afinal, há quem defenda que tudo seja um remix. A cultura remix representa a era do compartilhamento, da adaptação e da disseminação de conteúdo. Nesse contexto, o que define o limite entre criatividade, inovação e originalidade?

Remixar significa combinar ou editar material já existente para produzir algo novo. A expressão “remix” tem origem nos anos 70 e foi utilizada quando DJs descobriram que era possível modificar a música depois de gravá-la. Hoje em dia, qualquer um pode ser remixador, transformando não só música, mas também fotos, vídeos e diversas outras plataformas de mídia e manifestações artísticas. Apesar desse termo ter nascido bem antes do surgimento da internet, foi com a ascensão da web que o remix ganhou força para se espalhar globalmente, dando origem a muitos dos memes que vemos atualmente.

De acordo com Pierre Levy, a cultura remix está diretamente relacionada à cibercultura que, entre outros fenômenos, cria mundos virtuais que “podem ser enriquecidos e percorridos coletivamente”. Mas esse mundo coletivo de compartilhamento e apropriações não é uma terra sem lei.

Vamos falar de direitos autorais e Creative Commons

O Copyrigth (diretos autorais) surgiu na Inglaterra no início do século XVIII. O Estatuto de Anne foi a primeira lei nesse sentido e privilegiava o autor, ao invés dos impressores de livros, como detentores dos direitos autorais e de reprodução de suas obras. Desde então, a legislação se expandiu até incluir outras tecnologias e formas de expressão que foram surgindo —  fotografia, filmes, fotocópias, softwares, entre outras.

Atualmente, o direito autoral concede aos criadores das obras o direito sobre qualquer manifestação intelectual expressa por algum meio. Então, a partir do momento em que o autor adquire direito sobre sua obra, outra pessoa não pode compartilhar sem autorização. Mas e se o autor quiser compartilhar? Para isso foi criado o Creative Commons (conhecido pelas letras “CC”), uma regulamentação para que o autor deixe claro como ele gostaria que seu material fosse utilizado por outros.

https://youtu.be/YlYmmEdC2VI

A ideia foi minha!

As referências, sejam a partir de nossas próprias experiências ou por meio do conhecimento alheio, estão presentes em todos os processos de criação. Para além do clichê da famosa frase “nada se cria, tudo se transforma”, o processo de criação está permeado de referências. No mundo on-line ou off-line, a mistura de conteúdos e a adaptação de ideias faz parte da formação do pensamento.

Se por um lado a inovação não está ligada ao ineditismo completo, por outro, apesar de também se configurar como criação, a simples mistura de informações não garante o surgimento de novidades. A criatividade tem muito mais a ver com o olhar sobre as coisas. Saber enxergar de maneira diferente aspectos comuns do dia a dia e fazer ligações entre itens distintos é o caminho para a formação de ideias inovadoras. Elas não nascem do nada — tem todo um processo cheio de referências pelo caminho. A cultura remix reflete a amplitude que a evolução na comunicação proporcionou aos nossos pensamentos. Nos tornamos DJs de ideias, nos apropriando, ajustando e criando coisas novas a partir da mistura de conteúdo.

Henry Jenkins, autor do livro Cultura da Convergência, fala sobre a questão da convergência, não pelo lado tecnológico, mas como um processo cultural que estimula a participação dos usuários/consumidores nas decisões que antigamente ficavam restritas aos interesses dos veículos e marcas. É o que ele chama de “cultura do fã”. O autor ressalta que há um equívoco nessa visão “alquímica” que temos de que a cultura provém da cabeça do artista, que ela é criada do nada. “Precisamos partir da premissa de que, em todo processo criativo, o artista constrói sobre a cultura existente. Mas para isso precisamos respeitar a cultura. Precisamos conhecer e identificar as fontes do material que usou. Para mim, a diferença entre remixagem e plágio é que o plágio oculta suas fontes enquanto a remixagem as celebra e as expõe”, destaca Jenkins.

Re-remix

Kirby Ferguson, criador da série “Everything is a remix”, mostra em sua apresentação no Ted que, de Bob Dylan a Steve Jobs, a cultura remix está presente em diferentes contextos criativos.

[Visualize o vídeo: clique aqui]

Confira a seguir alguns exemplos de remixagem de conteúdo:

Crianças remixadas

Um experimento feito por uma escola canadense foi inspiração para um comercial do Itaú, em que crianças têm contato com tecnologias antigas:

https://youtu.be/CbolNG66l_A

Youtubemix

O Youtube tem se mostrado como grande canal para exibição de remixes. Um videoclipe que faz sucesso nessa rede, logo começa a ganhar diversas de versões. Um dos casos mais atuais é o da música “Call me maybe”, da cantora Carly Rae Japson. A música originou paródias de anônimos e também de personalidades, o que ajudou a impulsionar ainda mais sua viralização e incentivar a produção de outros vídeos a partir do clipe original. Além desse caso, a música “Somebody That I Used to Know”, do Gotye, também retrata a vontade de criar dos internautas. De acordo com o site Youpix, no segundo trimestre desse ano, a música foi responsável por 65,8% dos vídeos de cover do YouTube. O movimento foi tão intenso, que o próprio Gotye fez um remix com as diversas versões produzidas pelos internautas.

Remix Nokia

E o caso “Perdi meu amor na balada”? O vídeo produzido pela Nokia teve inspiração em um site criado por Patrick Moberg para encontrar Camille Hayto, a garota pela qual ele se apaixonou após tê-la encontrado no metrô.

(clique na imagem para acessar o site)

Cultura remix: criatividade na disseminação de conteúdo

Já vi isso em algum lugar…

No cinema a cultura remix também está presente. Esse vídeo mostra cenas que inspiraram o filme Kill Bill. Apesar de se tratarem de algumas cenas de kung fu, em que o movimento do golpe é padrão, é interessante observar o contexto das cenas, em que as referências anteriores estão bem presentes.

Tópicos: