Não existe uma palavra correspondente que possa servir como significado literal de ‘crowdfunding’, mas ‘financiamento coletivo’ é uma expressão que tem sido aceita universalmente e, de fato, ela define de maneira simples e eficiente a prática. Esta técnica já se tornou um hábito na internet, nos últimos tempos. A popular “vaquinha” que já existia antes da era digital é, hoje em dia, um método bastante comum para levantar certas quantias de dinheiro para financiar o que quer que seja.
O modelo, claro, é aplicado por diferentes sites e plataformas e, seguindo uma das principais características da web 2.0, passa por melhorias e atualizações o tempo todo. Atualmente existem incontáveis modelos e maneiras de participar e de financiar projetos desse jeito. Esse tipo de estratégia cresceu muito nos últimos anos e movimenta bilhões de dólares, internacionalmente.
O benefício pode atingir a todos os envolvidos. Enquanto serve como alternativa de financiamento para o responsável, ou responsáveis, pelo projeto, permite às pessoas participarem efetivamente no investimento e na criação. Em plataformas como o Catarse (o mais popular no Brasil) e o Kickstarter (o mais popular nos EUA), por exemplo, dependendo do valor investido por cada pessoa, ela recebe uma recompensa ou tem direito à tomada de decisões, caso os objetivos sejam alcançados.
Apesar de não ser nenhuma regra, é comum ver projetos criativos ou artísticos entre os que mais alcançam os objetivos. Uma das grandes pioneiras de arrecadação do Kickstarter é a artista norte-americana Amanda Palmer, que pediu inicialmente por US$ 100 mil dólares para a gravação de um disco e uma turnê com sua banda e conseguiu recolher US$ 1.192.793,00 com a ajuda e a colaboração de 24.883 fãs e apoiadores. Foi o primeiro projeto a passar de US$ 1 milhão.
Em uma palestra ao TED, Amanda Palmer falou da importância da colaboração e da confiança na internet, na indústria cultural e na própria vida:
Totalmente contrária ao esquema de gravadoras e defensora do compartilhamento legal e ilegal de músicas na internet, Amanda destaca não só o poder de comunicação e de ajuda mútua que a rede proporciona, mas também fala da importância da confiança do artista.
Para ter sucesso nesse tipo de financiamento, criatividade está entre as características de maior potencial. O crowdfunding é a cara da nova economia e dos novos negócios da segunda década do século XXI porque já foge ao modelo tradicional na sua essência. Se antes as novas empresas dependiam de grandes financiamentos e precisavam conquistar grandes investidores mais especulativos para entrar no mundo dos negócios, agora o capital inicial pode ser levantado parcialmente (ou integralmente) por pessoas comuns pelo simples motivo delas se interessarem no negócio.
Outro uso cada vez mais comum no mundo corporativo é o custeio para projetos específicos de uma empresa. Foi o caso da Oculus VR, uma pequena empresa fundada em 2012 que, em 2 de agosto do mesmo ano, propôs um dispositivo revolucionário de realidade virtual e criou uma meta de financiamento de US$ 250 mil. Quase um mês depois, no dia primeiro de setembro, a start-up conseguiu levantar US$ 2,4 milhões com o apoio de 9,5 mil pessoas que pagaram de US$ 10 a US$ 5 mil cada uma. Em março de 2014, o Facebook comprou a companhia por US$ 2 bilhões.
O Oculus Rift, único produto produzido com o financiamento, sacudiu a indústria tecnológica, fazendo com que companhias como Microsoft e Sony investissem em dispositivos com propostas semelhantes.
Estes exemplos demonstram o gigantesco potencial que esse tipo de estratégia tem a agregar, mas é importante ressaltar que uma boa ideia não é o suficiente para ter sucesso nesse tipo de financiamento alternativo. Como qualquer ferramenta ou tendência de mercado, o financiamento coletivo só vai funcionar efetivamente quando for aliado ao trabalho e ao real interesse do responsável pela iniciativa.
Para que esse trabalho gere resultados reais, a ideia também deve ser aliada à construção de um bom capital social e à dedicação ao marketing, de alguma forma. A internet colaborativa na qual está baseada a atual revolução digital abriu muitas portas para quem tem boas ideias, mas para encontrar o caminho para as oportunidades é necessário esforço e planejamento.