O desenvolvimento das tecnologias da informação afeta mais nossas vidas do que às vezes podemos perceber. Elas podem influenciar até nas frutas e verduras que iremos encontrar na vendinha mais próxima. Duvida? Pois saiba, por exemplo, que se você pode comer maçãs em qualquer época do ano, é graças aos avanços tecnológicos no campo brasileiro¹. Grande parte desse desenvolvimento deve-se à agricultura de precisão (AP) — uma prática agrícola que utiliza a tecnologia da informação para coletar dados e acompanhar a variabilidade do solo e do clima. A partir dos dados das áreas monitoradas, são implantados processos específicos para a dosagem correta de adubos e agrotóxicos.
“A geração de conhecimentos e tecnologias de correção de solo, recomposição de fertilidade e manejo de cultivos permitiram ao Brasil transformar grandes extensões de savanas, os cerrados brasileiros, muito ácidos e pobres em nutrientes, em áreas agricultáveis”, ressalta² o Maurício Antônio Lopes, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Como funciona a AP
Vamos pensar assim, na gestão da comunicação das empresas, a coleta e o gerenciamento de dados referentes aos consumidores tornam possível identificar as necessidades, gostos e perfis dos vários tipos de público, direcionando conteúdo, produtos e serviços específicos para cada um deles. Da mesma forma, a agricultura de precisão reúne informações sobre a variação dos tipos de solo e clima, conduzindo as melhores práticas de cultivo, respeitando as características singulares de cada região.
Veja abaixo, as etapas da AP durante a safra:
Para que serve
Se bem aplicada, a agricultura de precisão pode condicionar o uso racional dos insumos necessários, otimizando o potencial produtivo das culturas e a competitividade do produtor rural, além de proporcionar melhor qualidade ambiental. “Maior eficiência significa produção com menor custo na fazenda, o que tem reflexos positivos em termos de oferta e preço final dos produtos ao consumidor”, ressalta Álvaro Vilela Resende, pesquisador da Embrapa e membro da rede de pesquisa em agricultura de precisão.
Enxada, adubo e GPS
Sobre as tecnologias utilizadas, de acordo com Resende, com a popularização do uso do sistema de posicionamento por satélite (GPS) e dos sistemas de informação geográfica (SIG), áreas do conhecimento como geoprocessamento e geoestatística passaram a ter várias aplicações no meio rural. A prática mais disseminada no Brasil atualmente é a amostragem de solo georreferenciada, que realiza o mapeamento da fertilidade das áreas de cultivo para, em seguida, orientar sobre as quantidades de nutrientes que devem ser fornecidas em cada local dentro da lavoura.
Para promover o gerenciamento agrícola, Resende lembra que pequenos produtores também podem se beneficiar da agricultura de precisão sem a necessidade de investimentos pesados em equipamentos e serviços. “A lógica da informação sobre o desempenho agrícola pode ser aplicada por outras abordagens: um produtor que tem um pequeno pomar de uma espécie frutífera, por exemplo, pode usar meios simples de marcar plantas para um monitoramento mais detalhado das respostas ao manejo”, destaca.
Fazendeiro gestor
A Embrapa tem buscado contribuir na formação de profissionais qualificados e apoiar ações de difusão das tecnologias e treinamentos em agricultura de precisão. Resende acredita que “de modo geral, o produtor brasileiro está cada dia mais bem informado e busca inovações que possam facilitar a sua rotina de trabalho e aumentar a rentabilidade da sua atividade”. Paralelo a isso, surgem cada vez mais equipamentos e tecnologias para os diversos setores da agropecuária. “Ao experimentar inovações, os produtores naturalmente são induzidos a melhorar seu nível gerencial, tornando-se mais preparados e competitivos”. Resende lembra ainda que essa tendência deverá ser reforçada diante do papel destacado que o Brasil terá no abastecimento mundial de alimentos nas próximas décadas. E os dados reforçam essa ideia. Veja a seguir um vídeo que mostra a importância da evolução dos processos agrícolas e o posicionamento de destaque que o Brasil ocupa diante da demanda mundial de alimentos.
Agricultura de precisão: o caso algodão
Para exemplificar como a agricultura de precisão pode atuar na prática, vamos mostrar um projeto da Embrapa em parceria com a SLC Agrícola, em que a AP foi utilizada para avaliar a variação do solo e sua influência na produtividade do algodão. Para realizar o monitoramento da cultura do algodoeiro, foram utilizados sensores de solo antes do plantio para estudar suas condições e, após o plantio, foi realizado o acompanhamento nutricional e de crescimento das plantas. Ao final, por meio de monitores instalados nas máquinas de colheita foi possível avaliar a produtividade do algodoeiro. Com os resultados obtidos, explica Ziany Neiva, PhD. em Sensoriamento Remoto da Embrapa Algodão, já é possível recomendar a adubação em diferentes áreas da lavoura, visando a elevação da produtividade da cultura.
Ela explica que uma das maiores mudanças ocorridas desde o início do processo foi a utilização de “mapas de produtividade”, já que as fazendas antes faziam estimativas através de balanças, após a coleta do algodão em campo. O mapa de produtividade reúne informações detalhadas sobre o terreno cultivado, e dá parâmetros para diagnosticar e corrigir as causas de baixa produção em algumas áreas. Os mapas são gerados através da localização dada pelo GPS e por informações disponibilizadas pelos sensores instalados nas máquinas de colheita.
Sobre os sensores:
O processo de geração de mapas de produtividade para o algodão inicia com a instalação de receptores de sinal de satélite, monitores de produtividade e sensores de fluxo nas colhedoras.
Estes sensores são instalados junto aos dutos que transportam o algodão em caroço até o local de armazenamento, e faz uma estimativa da produtividade com base no volume que passa pelos mesmos (Figura 2).
Os dados são coletados e reunidos em softwares específicos (SIG) para avaliação.
A imagem acima é a representação da colheita de algodão utilizando sensores de produtividade:
a) sensor de fluxo instalado junto a cada duto.
b) monitor de produtividade registrando os dados.
c) colhedora equipada com receptor diferencial de sinal de satélite em operação.
¹ TV Globo
² BBC